quarta-feira, 18 de junho de 2014

Elipse de tempo



O tempo é unidade fundamental do cinema e sua manipulação é um dos aspectos mais importantes na composição de um filme.
Quando o espectador entra na sala escura, deixa por alguns minutos de viver o “tempo real” dos acontecimentos para mergulhar em uma temporalidade paralela.

Esse tempo fílmico é possível através das Elipses.

Uma elipse é um salto no tempo, um corte no tempo, a passagem de uma ação para outra deixando de mostrar coisas que intermediaram essas ações.
Em geral, um filme é como uma coleção de passagens marcantes e essenciais. 

Normalmente, num bate-papo, quando contamos alguma história real aos nossos amigos, não nos prendemos a detalhes que podem alongá-la e deixá-la cansativa. Escolhemos, rapidamente, o que é fundamental para a compreensão do fato, o que não pode faltar para garantir o suspense, a graça ou o drama da situação.


E contar uma história, no cinema, também é escolher, também é decidir o que mostrar e o que ocultar.

A Elipse é construída na montagem, quando é dividido o tempo e o espaço narrativos em diversas partes (planos. Quanto mais elíptico for um filme, mais longe ele estará de uma estética literária ou teatral.

Um dos mais antigos registros do uso de elipse é de um filme dinamarquês de 1911, “De Fire Djoevle”. De lá pra cá a técnica foi se difundindo e aprimorando, ajudando a construir cenas e sequências memoráveis, justamente, pela sutileza da omissão.
O filme considerado ter a maior elipse de tempo até o momento é o “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick, na cena em que o macaco, ancestral do homem, joga um osso para cima e, na sequência sobre uma mesma angulação, aparece a imagem de uma nave no espaço, indicando o processo da evolução.


Junto a estas elipses inerentes à obra de arte, existem outras, denominadas expressivas por visar um efeito dramático ou terem um significado simbólico.
São divididas em: elipses de estrutura e elipses de conteúdo.

As elipses de estrutura – são motivadas por razões dramáticas.
Dissimulando um momento decisivo da ação, quebrar ou intensificar o tom dramático da ação, demostrar a visão, audição ou emoção partindo do protagonista ou ainda revestir a ação ou não de profundidade.

As elipses de conteúdo - são motivadas por questões de censura social.
Gestos, atitudes e acontecimentos penosos ou delicados que o respeito aos “bons costumes” e pelos tabus sociais não permitem mostrar em tela na íntegra, são sugeridos de diversas formas.


Entretanto, a Elipse, pelas palavras de Marcel Martin: “Não se trata de suprimir momentos vazios, mas sugerir o sólido e o pleno, deixando fora de campo o que o espírito do espectador consegue preencher sem dificuldade”.

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