O tempo é unidade fundamental do cinema e sua manipulação é um dos
aspectos mais importantes na composição de um filme.
Quando o espectador entra na sala escura, deixa por alguns
minutos de viver o “tempo real” dos acontecimentos para mergulhar em uma
temporalidade paralela.
Esse tempo fílmico é possível através das Elipses.
Uma
elipse é um salto no tempo, um corte no tempo, a passagem de uma ação para
outra deixando de mostrar coisas que intermediaram essas ações.
Em geral, um filme é como uma coleção de passagens marcantes e
essenciais.
Normalmente, num
bate-papo, quando contamos alguma história real aos nossos amigos, não nos
prendemos a detalhes que podem alongá-la e deixá-la cansativa. Escolhemos,
rapidamente, o que é fundamental para a compreensão do fato, o que não pode
faltar para garantir o suspense, a graça ou o drama da situação.
E
contar uma história, no cinema, também é escolher, também é decidir o que
mostrar e o que ocultar.
A
Elipse é construída na montagem, quando é dividido o tempo e o espaço
narrativos em diversas partes (planos. Quanto mais elíptico for um filme, mais
longe ele estará de uma estética literária ou teatral.
Um dos mais antigos
registros do uso de elipse é de um filme dinamarquês de 1911, “De Fire Djoevle”. De lá pra cá a técnica foi se difundindo e aprimorando,
ajudando a construir cenas e sequências memoráveis, justamente, pela sutileza
da omissão.
O filme considerado
ter a maior elipse de tempo até o momento é o “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick, na cena em que o macaco, ancestral do homem, joga um osso
para cima e, na sequência sobre uma mesma angulação, aparece a imagem de uma
nave no espaço, indicando o processo da evolução.
Junto a estas elipses
inerentes à obra de arte, existem outras, denominadas expressivas por visar um
efeito dramático ou terem um significado simbólico.
São divididas em: elipses de estrutura e elipses de conteúdo.
As elipses de estrutura – são motivadas por razões dramáticas.
Dissimulando um momento
decisivo da ação, quebrar ou intensificar o tom dramático da ação, demostrar a
visão, audição ou emoção partindo do protagonista ou ainda revestir a ação ou
não de profundidade.
As elipses de conteúdo - são motivadas por questões de censura
social.
Gestos, atitudes e
acontecimentos penosos ou delicados que o respeito aos “bons costumes” e pelos
tabus sociais não permitem mostrar em tela na íntegra, são sugeridos de
diversas formas.
Entretanto, a Elipse, pelas
palavras de Marcel Martin: “Não se trata de suprimir
momentos vazios, mas sugerir o sólido e o pleno, deixando fora de campo o que o
espírito do espectador consegue preencher sem dificuldade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário